Monday, December 3, 2007

Passa intensa intensamente ....

... sem chamar por mim. Será neve? Será gente? Com a neve que cai hoje intensamente vejo que o tempo tem passado tão rápido, tão demolidor, tão malcriado e impaciente, que não espera por mim. De repente era verão e sentíamos aquela brisa quente que nos passa nos braços nos fins de tarde e noites de Julho e Agosto. E agora esta neve não pára de cair. Começo a pensar na imensa camada que vou ter de limpar do carro para poder voltar para casa. Mas há algo de mais importante agora! O tempo, este tempo todo que passou desde que tive tempo para escrever algo que fosse puramente um devaneio, um "apetece-me". Wow, os meses passaram demasiado rápido, tão rápido que a minha reacção não pode ser um mero encolher os braços e pensar por uns segundos que tenho que começar a aproveitar mais o momento presente.
Parece que fui a algum lado, e voltei agora. Voltei agora a mim, à minha consciência. Tinha uma sensação semelhante quando, durante os tempos da faculdade, havia dias em que não me lembrava de todo de ter conduzido o meu Peugeot pela Ponte 25 de Abril da FCT até às Olaias. Acho que só na garagem é que me dava conta que estava dentro do carro. Pois agora isto tem uma escala muito maior, são meses que passaram. Wow, duplo wow.

Durante este tempo a Rita e o Tato casaram num final de dia bonito numa praia perdida num país esquecido na esquina da Europa. A minha tão querida amiga casa e eu aqui, enterrada em livros a aprender e a pensar incessantemente para me preparar para que um grupo de cientistas decida se eu tenho valor ou não como cientista. Por muito que nunca vá poder ter esse dia em mim, vivi um pouco através das fotos da outra Rita, que neste dia era a outra Rita apenas porque a primeira se casou. Afinal o dia foi da Rita e do Tato. Minhas queridas, que dizer? Espero que em velhinhas me ajudem a viajar até esse dia convosco, não só através das fotografias, como também dos momentos do coração apertado, das piadas, das imperdíveis calinadas e momentos indiscretos. Porém as fotos mostram um dia bonito, pessoas bonitas, sorrisos felizes de verão. Hum ... e aqui eram livros e artigos científicos e um mar de folhas brancas inundadas de caracteres e mapas e gráficos ...



Os exames vieram, o stress foi tamanho, maior foi a adrenalina. Os exames escritos levaram 7 dias onde tive 24horas para resolver um conjunto de questões colocadas por cada cientista do meu comité. Eram 24horas para cada cientista e durante esse tempo trabalhei incessantemente por labirintos de ideias, de hipóteses, de factos e argumentos para resolver problemas e expor conhecimento de forma integrada. Estas áreas interdisciplinares têm este pormenor, integram muitas áreas específicas, que a este nível de doutoramento tenho de dominar. Depois de dormir cerca de 32horas em 7 dias, vieram 8 dias de espera, enquanto o comité, disperso entre Califórnia, ilhas Galápagos, Maryland, e Nova Iorque decidia o meu valor. Não o meu valor intrínseco, esse sei-o eu, mas o valor cientifico. Passada esta fase, sou convidada para o exame oral. Tive 5 dias para me preparar para essa parte. E essa parte veio e passou.
Ouvi falar de outras pessoas, das mais diversas reacções. Algumas pessoas esquecem tudo, outras ficam mudas ou dizem não sei durante horas, ou porque acham que estão perante um comité que se junta para lhe fazer a vida negra, ou então inventam respostas sem admitir que não sabem. Eu estava super curiosa de saber que pessoa seria eu, como iria eu reagir. O peso deste momento é que se o estudante de doutoramento não passa este filtro, basicamente é convidado a concluir os estudos com um mestrado e não um doutoramento. Foram 2h30 onde eu adorei a atenção, adorei que me tivessem desafiado a pensar nas coisas que me interessam sob perspectivas diferentes. Foi interessante. No final, saí da sala por 10 minutos, enquanto os cientistas resolviam o meu valor para eles. Passei.
Meses e meses de trabalho para ouvir esta palavra ... ao que se resumem tantas escolhas, tanta persistência. Apenas no dia seguinte verdadeiramente senti os sinais das descargas de adrenalina do dia anterior. Estava cansadíssima, doía-me o corpo e só queria apagar e dormir. Entretanto outros queridos amigos tinham casado e estavam no Brasil, o Lucio e a Filipa!

Passados 2 dias foi pegar e zarpar de novo, primeiro para um fim-de-semana em Nova Iorque com o André, onde estivemos também com um casal amigo, depois rumo a Woods Hole, onde mais uma vez o Ivan me abriu as portas para aquele meio espectacular.
Mais prazos e mais desafios se foram seguindo, incluindo uma proposta para a NOAA, uma louca tempestade em Woods Hole que aniquilou a electricidade por umas 40 horas (que eu não tinha a mais para preparar ...) uma apresentação numa conferência internacional em Providence (Rhode Island). Ainda assim deu para o André se juntar a mim em Woods Hole durante os fins-de-semana e paaseámos brevemente junto ao mar.



Providence foi altamente, com muito trabalho e discussões interessantes. Mais uma vez notei que sou eu a Rita, mas mais segura, apesar do cansaço. Foi muito fixe, e depois o imenso grupo de pessoas a apresentar nesta conferência era altamente. Toda a parte social estava super bem organizada, com campeonatos de snooker, competições de dança e música (havia uma banda intitulada Os Outliers ... que como bons geeks da ciência tinham de adoptar um nome destes). O grupo de grad students e investigadores de Woods Hole e Cornell estava lá em peso e foi altamente os momentos que passamos juntos. Voltei a Woods Hole mais uma vez e fui até Martha´s Vineyard no barco construido por um casal amigo (ah Rita, casal amigo!) todo de madeira (o barco, não o casal). Depois disso mais uma road trip até Manhattan para um fim-de-semana com o André.


Este andar de cá para lá foi um pouco tipo o coelho na Alice no país das Maravilhas, mas sem olhar para o relógio, daí estar agora em choque com o tempo que passou.

O que virá a seguir?

1 comment:

Anonymous said...

Que grande cruzada!
Parabéns pelo resultado
Lurdes